Memorial de Marcos
"Nos lazeres do ofício, escreveu o Memorial, que, aparado das páginas mortas ou escuras, apenas daria (e talvez dê) para matar o tempo da barca de Petrópolis". - Machado de Assis (1839 - 1908). "Não são apenas meus gestos que escrevo, sou eu mesmo, é a minha essência". - Michel de Montaigne (1533 - 1592).
domingo, 1 de junho de 2025
O Cão Negro
sábado, 19 de abril de 2025
Um Sábado Nublado
Pesadas nuvens escuras agora estão a se formar no céu, lentamente transformando o dia em noite. O vento aumenta de intensidade e faz as folhas das árvores dançarem com seu sopro forte. Há um nítido presságio de tempestade no ar. Isto, de certa forma, me alegra e conforta. Adoro este tipo de clima. Amo a chuva. Sou apaixonado pelo petricor. Parece que o nome que os estudiosos da mente humana dão à esta idiossincrasia climática é pluviofilia. Sou um pluviófilo crônico e convicto.
Estou sentado em meu quarto. Em breve, chegará o crepúsculo. A escuridão do anoitecer paulatinamente recobre os móveis e os livros. Sinto-me como se estivesse imerso num ambiente de dark academia. Gosto imensamente disso. É exatamente o tipo de ambiente em que nasci para estar. É onde realmente me sinto em paz.
Esta é a atmosfera perfeita para ler “História Narrada ao Crepúsculo”, de Stefan Zweig, “O Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Brontë, “Drácula”, de Bram Stoker, ou mesmo os contos de Hoffmann ou de Poe, acompanhado por uma generosa xícara de café ou chá, junto de minha estatueta de Atlas.
Acabo de voltar do trabalho. Não foi um dia especialmente cansativo, em termos de volume de demandas – nos sábados, normalmente, o número de suportes operacionais é bastante reduzido, em comparação com o fluxo dos dias úteis. Além do mais, hoje, surpreendentemente, foi um dia assaz interessante, do ponto de vista intelectual; somente os analistas de atendimento estavam presentes na sala da Qualidade, todos os monitores estavam de folga, e, num determinado momento, começou a se desenrolar ali, não sei a que propósito, uma espécie de debate sobre religiões e gêneros sexuais, o que deu azo, malgrado sua absoluta inocuidade, a inúmeras piadas simplesmente divertidíssimas — naturalmente, todas de duplo sentido, e politicamente incorretas — e algumas reflexões, até que bastante pertinentes, sobre políticas identitárias, que ajudou a fazer o tempo passar mais rápido. Mas minha bateria social ficou, como de praxe, completamente esgotada.
Os seres humanos, via de regra, me exaurem. São raros os momentos em que realmente gosto de socializar. Na esmagadora maioria das vezes, sinto um desgaste imenso ao interagir socialmente. Nessas ocasiões, mal posso esperar para estar em casa, longe do barulho e do tumulto do mundo.
Porém, há dias em que, nem mesmo em casa, tenho verdadeiramente sossego. Por exemplo, neste momento, ouço os gritos de minha mãe e de minha irmã e a algazarra das crianças, incluindo meu filho, do lado de fora da porta do meu quarto. Os moradores desta casa simplesmente não conhecem o conceito de silêncio. Nem o de privacidade.
Normalmente, isto me exasperaria profundamente, e poderia até me levar ao extremo de ter um ataque de fúria. Hoje, no entanto, sinto-me singularmente sereno e em paz comigo mesmo e, inacreditavelmente, com os demais homens que habitam este pálido e turbulento ponto azul.
Com toda a certeza, por influência do clima.
quinta-feira, 17 de abril de 2025
O Grau Zero da Crítica
quarta-feira, 16 de abril de 2025
O Bloco do Eu Sozinho
terça-feira, 15 de abril de 2025
A Morte da Arte
domingo, 13 de abril de 2025
O Silêncio na Catedral
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
O Último Grande Poeta
domingo, 2 de fevereiro de 2014
The End
sábado, 23 de julho de 2011
A Vulgaridade da Morte
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Amy Winehouse (1983-2011), na adolescência. |
Eu penso constantemente sobre ela. Não por morbidez ou tanatolatria, mas justamente por concordar com o meu grande mestre, Montaigne, em que é preciso aprender a morrer para aprender a viver.
Mas já que tocamos no secular e inesgotável tema das relações entre a morte e a arte, permita-me o leitor dizer, ainda, no tocante a este assunto, que não há nada mais cruel e trágico sobre a face da Terra, nesta matéria, ao meu ver, do que a perda abrupta e irreversível de um grande talento artístico, ainda em formação, subitamente cortado, pela raiz, antes de amadurecer por completo, tal como uma flor, ainda por desabrochar, que é repentinamente arrancada do solo pela mão inábil de um jardineiro incompetente.
Inúmeros artigos foram e estão a ser escritos sobre a morte e a vida de Amy Winehouse. Eu nada mais poderia fazer aqui, portanto, senão repetir, com outras palavras, tudo que vi, li e ouvi sobre ela, ao longo do dia, desde o seu notório e já amplamente divulgado envolvimento não apenas com o álcool, mas com várias outras drogas, lícitas e ilícitas (mal que também se abateu sobre outras figuras do meio musical, tão ou até mais célebres e talentosas do que ela), até - terreno assaz fértil para teorias conspiratórias - sua entrada no tão famoso quanto sinistro - e lendário - "Clube dos 27".
O que nunca foi o caso de Amy Winehouse, é claro, nem mesmo nos piores e mais vexaminosos momentos de sua adicção. E não é desses momentos que devemos nos lembrar. É sua poderosa voz que devemos continuar a ouvir.