A palavra arte foi tão banalizada e vulgarizada em nossos dias, que o próprio sentido do fazer artístico se perdeu e desgastou completamente, e o puro e simples mau gosto foi alçado ao status de critério definidor de obras-primas. Culpa, entre outros, de pseudoartistas como Marcel Duchamp e seu célebre mictório, e Andy Warhol e seus não menos célebres e indigestos rótulos de enlatados.
Ora, numa era em que tudo é arte, nada é arte. Hoje, qualquer um que pinte um ponto preto numa tela branca, pelo simples fato de expô-lo num museu ou numa galeria, já é automaticamente considerado um "artista", e exige ser assim chamado, mesmo sem jamais ter chegado sequer aos pés de um Michelângelo ou de um Rafael, ou, mais modernamente, de um Matisse ou de um Picasso.
Convenhamos, é fácil, ridiculamente fácil, expor um mictório assinado num museu ou reproduzir fotos coloridas de Marilyn Monroe e de outras celebridades em latas de molho de tomate em escala industrial, ou ainda, pendurar uma banana com uma fita numa parede e considerar tais mistificações estupidificantes como verdadeiras obras-primas da arte contemporânea. Já não pode ser dito o mesmo sobre pintar uma Guernica ou o juízo final em uma Capela Sistina.
A verdadeira arte é superior ao puro e simples entretenimento ou a considerações meramente mercadológicas. Só é arte o que eleva o homem para dentro e além de si mesmo, de sua reles condição animal e imediata. A arte contemporânea, na sua maior parte, bestializa o homem, apela aos seus instintos mais básicos e primitivos, embrutece-o, desumaniza-o, é apenas e tão somente barbarismo e filistinismo.
Nada que cause espanto, para falar com a devida franqueza. Afinal, o barbarismo e o filistinismo são as regras de ouro do mundo moderno. E o que é o mundo moderno, afinal de contas? Nada muito diferente das fezes enlatadas de Piero Manzoni.