quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

O Bloco do Eu Sozinho

  
Eu sempre saio sozinho. Nem sempre por escolha própria, é verdade; confesso que há ocasiões em que assim saio apenas por pura e simples falta de companhia. Não sou exatamente a pessoa mais sociável e extrovertida do mundo, e meus programas não costumam ser do tipo que agrada a um grande número de pessoas. O fato é que gosto de visitar lugares aos quais a maioria dos lânguidos e incultos cidadãos desta tórrida e árida terra de apedeutas crônicos simplesmente prefere não ir. Nada de excepcional ou estranho, apenas museus, bibliotecas, monumentos históricos, galerias de arte, performances dramáticas, etc. Os bárbaros e filisteus com os quais as injunções da vida me obrigam a conviver todos os dias não gostam de tais locais. Pelo contrário, eles abominam completamente o silêncio (sobretudo o silêncio) e a cultura predominantes nesses ambientes, justamente o que para mim constitui o melhor motivo para visitá-los. Via de regra, preferem lugares repletos de barulho e de multidões tonitruantes, coisas que eu abomino completamente por minha vez. Mas, entre deixar de conhecer um lugar que me interessa, por falta de companhia, ou conhecê-lo sozinho, escolho sempre a segunda opção. E nisto tenho o consolo de saber que pelo menos a super idolatrada e megalomaníaca ciência contemporânea me apoia.
É claro que em pelo menos algumas dessas ocasiões eu gostaria imensamente de estar acompanhado (bem acompanhado, aliás); seria simplesmente maravilhoso, creio, ter alguém com quem trocar minhas impressões do passeio - especialmente se esse alguém fosse uma mulher ao mesmo tempo espetacularmente bela e intelectualmente sofisticada, combinação, aliás, cada vez mais rara no mundo atual, senão completamente inexistente, e que para mim, contumaz e impenitente amante das belas artes e do belo sexo, seria nada menos do que perfeita - mas nem sempre é possível (quase nunca é); particularmente, nos dias que correm, faz-se uma tarefa verdadeiramente hercúlea encontrar alguém minimamente sensível e inteligente o bastante, seja qual for o gênero, sobretudo neste país asinino e sáfaro, para apreciar e sustentar uma conversa de alto nível sobre arte, cultura e temas afins.
Mas com o tempo, e a muito custo, um alto custo, aprendi a gostar de minha própria companhia. É a única que nunca me faltou, a única que permanece e permanecerá presente em minha vida, até o fim dos meus dias, neste pálido e turbulento ponto azul, solitário e perdido na periferia do cosmos.

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