Eu sempre saio sozinho. Algumas vezes não necessariamente por escolha própria — confesso que há ocasiões em que assim saio apenas por pura e simples falta de companhia. Afinal, não sou exatamente a pessoa mais sociável e extrovertida do mundo; antes pelo contrário, o tédio é o sentimento que parece mais prevalecer entre os indivíduos que eventualmente travam contato comigo, e meus programas não costumam ser exatamente do tipo que agrada a um grande número de pessoas.
Gosto de visitar lugares aos quais a maioria dos fúteis e incultos cidadãos desta árida e infecta terra de apedeutas crônicos e jactanciosos simplesmente prefere não ir. Nada de excepcional ou estranho — apenas museus, bibliotecas, monumentos históricos, galerias de arte, performances dramáticas, etc. Os bárbaros com os quais as injunções da vida me obrigam a conviver não gostam de tais locais. Pelo contrário, abominam completamente o silêncio (sobretudo o silêncio) e a alta cultura predominantes nesses ambientes — justamente o que, para mim, constitui o melhor motivo para visitá-los. Via de regra, preferem lugares repletos de barulhos sem sentido e de multidões tonitruantes, coisas que eu abomino completamente, por minha vez. Mas, entre deixar de conhecer um lugar que me interessa, por falta de companhia, ou conhecê-lo sozinho, escolho sempre a segunda opção. É a única alternativa capaz de me fazer sentir plenamente humano. Ou, pelo menos, menos ausente de mim mesmo.
Confesso que há ocasiões eu que eu preferiria estar acompanhado (bem acompanhado, aliás) em minhas perambulações culturais; seria maravilhoso, creio, ter alguém com quem trocar minhas impressões do passeio — especialmente se esse alguém fosse uma mulher ao mesmo tempo espetacularmente bela e intelectualmente sofisticada, combinação rara, senão completamente inexistente, no mundo atual (mas não convém tecer considerações críticas sobre as mulheres modernas em tempos de totalitarismo ginecocrático).
Particularmente, nos dias que correm, faz-se uma tarefa verdadeiramente hercúlea, para não dizer insolúvel, encontrar alguém minimamente sensível — e inteligente o bastante, seja qual for o gênero — sobretudo neste país asinino e sáfaro, para apreciar e sustentar uma conversa de alto nível sobre arte, cultura e temas afins. Às vezes, penso que talvez o problema esteja em mim (possivelmente está). Noutras, não penso nada, apenas caminho, olho e me calo.
Com o tempo — e a custo, um alto custo — aprendi a gostar de minha própria companhia. É a única que nunca me faltou, a única que permanece e permanecerá presente em minha vida até o fim dos meus dias, neste pálido e turbulento ponto azul pequeno e perdido na periferia do cosmos.
E, mesmo assim, às vezes, enquanto observo um quadro antigo ou me sento diante de uma vitrine empoeirada, sinto que há algo — alguém — que deveria estar ali também, e não está. Mas já não espero. Nem me desespero. Apenas levo a mim mesmo sempre comigo.
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