segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O Último Grande Poeta

Hoje, o mundo amanheceu mais triste e vazio. Leonard Cohen morreu. Cessem todos os cantos! Calem-se todas as vozes! Que importam todas as grandes e pequenas mazelas deste nosso infeliz e atribulado planeta, toda a sua miséria, todo o seu ódio, toda a sua violência, toda a sua vilania, toda a sua aspereza, toda a sua hostilidade, toda a sua hipocrisia, toda a sua hediondez, toda a sua malignidade, que importa tudo isso, enfim, pergunto eu, diante desta cruel e devastadora notícia: Leonard Cohen morreu? O último grande poeta da música se foi. É verdade que ainda temos o bardo Bob Dylan. Mas Cohen era-lhe, ao meu ver, imensamente superior. Penso, inclusive, que o menestrel canadense é que deveria ter ganho o Nobel de Literatura deste ano, ao invés do trovador americano, apesar da opinião em contrário do próprio Cohen. Não pela falta de méritos de Dylan, ele os têm de sobra, mas pela superabundância do talento poético de Cohen, que absolutamente nada fica a dever ao vate de Minnesota.
Para mim, pessoalmente, o mundo perdeu grande parte de seu valor e de sua beleza, no dia de hoje. As canções do aedo de Quebec marcaram várias passagens importantes e inesquecíveis de minha vida secreta, formaram a trilha sonora de grande parte da minha história. Há, também, vários aspectos de sua biografia com os quais eu sempre me identifiquei profundamente; sua depressão crônica, por exemplo (o que, aliás, foi o que primeiro chamou minha atenção para sua obra, quando a descobri, através de uma matéria veiculada pela revista "Veja", por ocasião do lançamento de "Ten New Songs" - em minha opinião, o melhor de todos os seus discos) e também sua predileção pelo uso de metáforas religiosas em suas canções. Agora que ele morreu, sinto como se eu tivesse realmente perdido um amigo, um amigo íntimo e de longa data. Dói, dói muito, dói horrores.
Para tentar aplacar um pouco a minha tristeza, conforto-me - ou pelo menos tento confortar-me - com a vaga e tênue esperança de que Leonard Cohen, ao partir, tenha finalmente encontrado a paz que tanto buscou em vida. Apenas lamento que tenha sido a paz dos cemitérios. 

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