Senti sua morte como se se apagasse um daqueles raros faróis em alto mar que ainda sabem o nome das ondas. A literatura, não apenas latino-americana, mas universal, se tornou mais órfã hoje, e eu também. Porque, em silêncio, ainda que nunca o tenha conhecido pessoalmente, reconhecia-o nas caudalosas páginas de seus livros, como se reconhecesse a mim mesmo. Havia nele algo que me lembrava do que eu gostaria de ser: alguém que escreve como quem constrói um templo – com rigor, com paixão, com fé. Llosa, mesmo em seus erros e vaidades, era fiel à ideia de que a literatura importa. Que é possível resistir à vulgaridade do mundo com frases bem colocadas e uma indignação elegante.
Agora que ele se foi, sinto como se houvesse uma pausa no tempo. Uma pausa densa, quase metafísica. É claro que se trata de pura ilusão minha. O mundo segue, como sempre seguiu, indiferente às perdas verdadeiras. Mas dentro de mim, um velho leitor dobra os joelhos. Em silêncio, acende uma vela. E relê, como quem beija pela última vez, as páginas de "A Guerra do Fim do Mundo" e de "Conversa na Catedral", meus livros preferidos de sua autoria, como uma última e singela homenagem de um admirador anônimo.
Certos autores, quando morrem, não partem sozinhos. Levam, consigo um pedaço de seus leitores. Um pedaço que jamais se reescreverá.
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