domingo, 2 de fevereiro de 2014

The End

Philip Seymour Hoffman (1967-2014).

Sinto como se um tétrico e espesso véu de profunda tristeza e devastador desespero tivesse subitamente descido sobre o mundo, agora que leio, consternado, e ainda incrédulo - e, sem qualquer receio de soar melodramático, com lágrimas nos olhos - a estarrecedora e acachapante notícia do súbito e estúpido falecimento do magnífico e inigualável ator Philip Seymour Hoffman, mundialmente conhecido como o ganhador do Oscar de Melhor Ator de 2005, por sua brilhante e verdadeiramente inesquecível atuação como Truman Capote, o célebre e polêmico autor de "A Sangue Frio", na cinebiografia dirigida por Bennett Miller.
Seu melhor trabalho, porém, pelo menos em minha talvez não tão modesta (na verdade, nada modesta) opinião, foi a representação de Wilson Joel, viúvo de uma suicida cuja carta de adeus ele não tem a coragem de ler, e viciado na inalação de gasolina e em aeromodelismo, no belíssimo e comovente "Com Amor, Liza" (2002), de Todd Louiso. Não podemos esquecer também de sua magistral atuação como Padre Flynn, no magnífico "Dúvida" (2008), de John Patrick Shanley.
Informações preliminares dão conta de que o corpo de Hoffman foi encontrado na banheira do apartamento em que o ator morava, em Greenwich Village, Nova York. Afirmam fontes anônimas que com uma agulha espetada no braço. Segundo um famoso tabloide norte-americano, a causa da morte teria sido overdose, possivelmente de heroína e anfetaminas. Hoffman certa vez reconheceu, publicamente, enfrentar problemas com substâncias ilícitas, e teria sido internado, em maio do ano passado, em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos.
Caso venha a ser confirmado tal diagnóstico, Hoffman será então considerado a mais nova vítima de talento a ter sua vida prematuramente ceifada pelas drogas, mais uma entre inúmeras outras figuras icônicas do cinema e das demais artes que nos deixaram de forma tão estupidamente abrupta e precoce, por culpa desse monstruoso flagelo que pesa sobre nossa época, muitas vezes no auge de suas carreiras, e com toda uma obra ainda por criar. Não citemos nomes. A contagem seria longa, longa e pesarosa, efetuá-la seria o mesmo que contar os corpos espalhados sobre um campo de batalha encharcado de sangue, após o fim de um combate, atividade que, além de inútil, ou útil apenas para estatísticos e historiadores militares, é propícia somente aos que têm estômagos fortes. Não é o meu caso, já que sofro de dispepsia (física e psicológica).
Limitemo-nos a lamentar, e lamentar profundamente esta perda - naturalmente, desnecessário e assaz óbvio dizê-lo, irreparável - e ponhamo-nos a rever suas representações primorosas, para aplacar um pouco a dor que nos está (que pelo menos me está) a castigar o coração. 
É o que vou fazer. Trago "Com Amor, Liza", comigo.

Nenhum comentário: