É extremamente difícil — talvez até mesmo impossível — para uma alma antiga, como a minha, adaptar-se completamente ao mundo moderno; porque o mundo moderno é, perdoem-me os eventuais apologistas do "progresso", um mundo superficial e vazio, sem qualquer propósito, sem qualquer significado realmente profundo e elevado, e totalmente desprovido de reais e sólidos valores espirituais, morais e intelectuais. É uma embalagem brilhante, porém sem nenhum conteúdo verdadeiramente belo, precioso e humano dentro de si.
Uma autêntica alma antiga sempre preferirá não apenas dedicar-se, como também envolver-se, somente com o que possa conduzi-la à evolução e à transcendência. Jamais perderá tempo com trivialidades inócuas e desprezíveis. Ser-lhe-á sempre intolerável o mero small talk; nunca irá a reboque da multidão, mas escolherá sempre seguir firmemente rumo ao aprimoramento e à elevação de si mesma, ainda que ao custo da solidão e do escárnio da grande massa anestesiada pelas distrações fáceis da época, mesmo entre espinhos e sobre brasas, mesmo sendo a última a permanecer em pé, entre as ruínas.
Ela sempre escolherá travar uma conversa profunda e construtiva com outras almas antigas — e, se me permitem o idealismo, talvez raras almas despertas ainda sobrevivam por aí — sobre o que verdadeiramente torna uma vida humana digna de ser vivida. Preferirá falar sobre a verdadeira arte, a alta literatura, a condição humana, a alma das coisas, do que gastar seu precioso tempo de vida com diálogos banais e vazios sobre o clima do dia, o resultado do jogo de futebol do último sábado, ou o mais recente caso amoroso da subcelebridade do momento.
No âmbito dos relacionamentos, uma alma antiga escolherá sempre um amor constante e real a uma atração fugaz e quimérica, meramente animal e abjeta. No campo dos estudos, buscará o silêncio plácido e reconfortante da contemplação mística e filosófica, no interior levemente sombrio, porém acolhedor e sereno, de uma biblioteca monacal ou de um salão forrado de madeira escura, iluminado apenas pela luz oblíqua que atravessa vitrais antigos. Sentirá mais vida em um volume gasto de Heráclito ou Plotino, ou mesmo de Tácito e Aulo Gélio, do que no frenesi inconsequente dos noticiários. Seu ideal de existência não será encontrado nas avenidas iluminadas pela pressa citadina de todos os dias, mas nos corredores silenciosos onde ainda ecoa, como um sussurro antigo, o latim dos monges e o grego dos poetas trágicos.
A tragédia das almas antigas é viver em permanente descompasso e desacordo com suas épocas. Seu Zeitgeist é sempre o oposto. Nascemos na época errada — ou talvez, se quisermos ser generosos com o destino, na época em que mais se precisa de alguma centelha de lucidez — e vivemos um atroz e triste exílio nesta que se pode perfeitamente considerar, sem exagero, como a verdadeira Idade das Trevas.
À noite, ao som distante de um piano solitário, seguimos lendo à luz de velas tardias, enquanto lá fora, indiferente e ruidosa, a modernidade ruge como uma besta cega. Nosso tempo não é deste tempo.