sábado, 7 de janeiro de 2023

Almas Antigas


É e muito provavelmente sempre será extremamente difícil para uma alma antiga, como eu, adaptar-se completamente ao mundo moderno; porque o mundo moderno é, perdoem-me os eventuais leitores progressistas, um mundo superficial e vazio, sem qualquer propósito, sem qualquer significado realmente profundo e elevado, e totalmente desprovido de reais e sólidos valores espirituais, morais e intelectuais. 
Ora, uma verdadeira alma antiga sempre preferirá não apenas dedicar-se como também envolver-se somente com o que possa conduzi-la à evolução e à transcendência, não à pura e simples perda de tempo com trivialidades inócuas e desprezíveis; nunca irá a reboque da multidão, mas escolherá sempre seguir o seu próprio caminho rumo ao aprimoramento e à evolução de si mesma, ainda que ao custo da solidão e do escárnio da massa vil e ignorante, mesmo entre espinhos e sobre brasas, mesmo sendo a última a permanecer em pé entre as ruínas; sempre escolherá travar uma conversa profunda e construtiva sobre o que verdadeiramente torna uma vida humana digna de ser vivida, como a grande arte e a alta literatura, por exemplo, a gastar seu precioso tempo de vida com diálogos banais e vazios sobre o clima do dia, o resultado do jogo de futebol do último sábado, ou o mais recente caso amoroso da subcelebridade do momento; no âmbito dos relacionamentos, sempre optará por um amor constante e real a uma atração fugaz e quimérica, meramente animal e abjeta; no campo dos estudos, o silêncio plácido e reconfortante da contemplação mística e filosófica no interior levemente sombrio porém acolhedor e sereno de uma biblioteca monacal, ao vozerio caótico e raso das inabitáveis e inumanas megalópoles contemporâneas.
A tragédia das almas antigas é viver em permanente descompasso e desacordo com suas épocas. Seu zeitgeist é sempre o oposto. Nascemos na época errada e vivemos um atroz e triste exílio nesta que se pode perfeitamente considerar como a verdadeira Idade das Trevas.

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