segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Sem Título

Não sei exatamente o que escrever nestas páginas, porém, sinto a necessidade de expressar algo, ainda que de forma vaga e confusa, e sem qualquer propósito ou plano predefinido, como é de meus hábitos. Acabo de sair de uma festa realizada na empresa em que trabalho e, como sempre acontece comigo depois de uma confraternização social, estou me sentindo só e triste. O clima de hoje parece estar em perfeita sintonia com os meus sentimentos, pois chove intensamente, e sopra um vento antártico, capaz de congelar até mesmo a alma. Tentei fazer o máximo que pude para escapar ao domínio de minha timidez crônica e conseguir interagir minimamente bem com os meus colegas, chegando até a exagerar na extroversão, em alguns momentos, beirando perigosamente, senão ultrapassando, mesmo, o limite do ridículo. O equilíbrio é um conceito que raramente consigo aplicar em minha vida, especialmente em momentos em que há um grande acúmulo de pessoas e sons ao meu redor. Ou me encapsulo totalmente em minha carapaça mental, procurando desesperadamente fugir aos olhares e contatos alheios, ou chamo toda atenção para mim, cobrindo-me de paetês e lantejoulas (metaforicamente, é claro) para ser o centro e o vórtice de todo o evento, geralmente pagando um alto preço pelo meu histrionismo.

É justo que o eventual leitor aqui presente me pergunte o motivo de minha tristeza. Não sei dizer ao certo. Creio que pelo fato de minha solidão adquirir um aspecto mais nítido e tangível quando estou cercado por outros seres humanos do que quando estou fisicamente só, em minha casa, entre os meus livros. Estar com outras pessoas, pessoas que, na sua esmagadora maioria, pura e simplesmente não se importam o mínimo comigo, faz-me sentir terrivelmente isolado e vulnerável. E isto me ocorre não somente com pessoas desconhecidas ou meros colegas de trabalho. Mesmo no seio da minha família, sinto-me sempre como um corpo estranho num organismo hostil, principalmente nos últimos tempos. Parece-me que, após haver completado quarenta e três anos de idade, ultrapassei um ponto de não-retorno em meus complexos interiores, minhas dificuldades de relacionamento com as pessoas, de um modo geral, tanto no plano profissional, quanto no familiar, tornaram-se mais agudas, e minha misantropia, mais forte e intensa. 

Tenho uma relação complexa e ambivalente com a solidão.